No dia internacional contra a
exploração sexual e tráfico de mulheres e crianças, o que devemos
discutir? O modo como seres humanos se
articulam para a manipulação de outros seres humanos? O modelo de sociedade que
transforma pessoas em mercadoria? O modo como isso acontece diariamente, há
muito tempo e que o combate a esse tipo de ação está longe de ser efetivo? O
drama da mulher enganada e escravizada? Das famílias? A questão parece se
aprofundar a cada análise.
Segundo as dados das Nações Unidas, o
tráfico de seres humanos supera o “faturamento” do tráfico de drogas e do de
armas, movimentando, aproximadamente, 32 bilhões de dólares por ano, sendo
considerada a terceira maior fonte de renda ilegal do mundo. Esse nefasto
quadro demonstra a situação de desrespeito aos Direitos Humanos, mas acima de
tudo, de desigualdade social e revelam a face oculta de uma sociedade firmada
em uma cultura machista e discriminatória que torna seres humanos objetos
produtos do mercado.
As vítimas do tráfico têm perfil
traçado, pois geralmente são mulheres, negras e pobres, com baixa escolaridade.
A estrutura da ação é evidente: traficantes prometem emprego no exterior,
geralmente de empregada doméstica, babá e até mesmo de modelo. O desfecho é
óbvio: são forçadas a ter relações sexuais, viver na miséria e em locais
inapropriados para o convívio humano. Tudo para fins de exploração, que inclui
prostituição, exploração sexual, trabalhos escravo, tráfico de órgãos e outras
práticas perversas. No entanto, embora tão detalhado, a estrutura desse crime
não é sequer arranhada pelas medidas públicas de segurança, fazendo com que
esses atos se perpetuem.
O tráfico e exploração de
mulheres e crianças, não é um caso isolado das relações econômicas, de sexo, de
raça e cultura, que configuram a sociedade como um todo. O fato de a maioria
das vitimas pertencerem às classes mais baixas, sendo, portanto, evidencia
disso. A idéia tradicional que possuímos de Direitos Humanos, não contemplam de
forma específica os direitos das mulheres, pois historicamente sabemos que o
espaço da mulher na maioria das vezes se dá no âmbito privado, e as noções
tradicionais de direitos humanos tem a tendência a se preocupar mais com a
esfera pública.
Frente a uma tragédia exposta
(digna de ser lembrada em calendário), com raízes tão profundas, devemos
denunciar essa situação criminosa e altamente violadora de direitos e exigir
dos órgãos responsáveis pela promoção e efetivação dos Direitos Humanos a maior
seriedade no combate a esse tipo de crime. Mas, além disso, denunciar essa
estrutura social que coisífica seres humanos e explora inclusive sua dignidade.
Nesse sentido, o desafio que está
posto a todos aqueles que pretendem combater essa realidade e a própria
efetivação dos direitos humanos, ante a possibilidade de construção e
consolidação de direitos é o de incorporar uma cultura de enfrentamento a essas
questões, pensando de forma mais abrangente, a fim de questionar esse modelo
perverso de sociedade em que vivemos.
Coletivo de Mulheres Rosas de Liberdade
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